#13 Quando o Conforto e a Paz me Encontraram no Catolicismo
"Eu pedi flores para Deus e Ele me deu chuva. Eu entendi, Senhor, sem chuva as flores não crescem."
Às vezes, eu me pergunto se todo mundo sentiu esse cansaço que eu senti. Não é só o cansaço do corpo, das obrigações, das lutas diárias. É um cansaço mais fundo. Um esgotamento de alma, como se houvesse dentro de mim uma sala escura, cheia de ecos antigos, onde nem eu mesma sei direito como entrei.
Por muito tempo eu procurei alguma luz para essa sala. Um jeito de silenciar a bagunça, de amaciar o peso que parecia crescer cada vez mais.
Procurei em métodos, em conselhos, em promessas fáceis. Nada adiantava. A sala continuava ali. Eu continuava ali.
Foi só quando voltei meus olhos para aquilo que sempre esteve diante de mim — o Catolicismo, puro e simples — que algo começou a mudar.
Mas não foi imediato. Não foi bonito, nem cinematográfico. Foi... melancólico, silencioso.
Eu me vi ajoelhada em igrejas vazias, ouvindo a minha própria respiração e o eco distante de orações antigas.
Me vi encarando a hóstia consagrada, sem palavras, sem pedidos, só com o coração nu.
E foi nesse lugar de total indigência, onde já não havia defesas nem máscaras, que eu encontrei o conforto. Não um conforto que tira a dor — mas um conforto que me ensinou a aceitá-la, a carregá-la com dignidade.
Lembrei de Santo Agostinho, escrevendo:
"Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova."
Senti o peso dessa frase como quem sente a saudade de casa depois de anos perdido no estrangeiro. Tarde, Senhor. Mas enfim, amei.
Descobri que a paz que o catolicismo oferece não é a paz da indiferença, nem da fuga. É uma paz que desce sobre nós como um véu leve, no meio da tempestade.
É a paz que Santa Teresinha experimentava quando dizia:
"Confiança, nada mais que confiança nos deve conduzir ao Amor."
Mesmo tremendo, mesmo chorando, mesmo caindo. Confiança.
Eu poderia dizer que foi fácil. Que depois de encontrar essa paz, nunca mais me senti perdida.
Foi preciso chegar ao limite da própria força para que eu me voltasse, quase sem querer, para aquilo que sempre esteve ao meu alcance: o catolicismo. Não como uma teoria decorada, nem como um sistema de regras externas, mas como um refúgio silencioso para minha alma cansada. Não foi um reencontro triunfal, daqueles que enchem de alegria à primeira vista. Foi um retorno discreto, doloroso, feito de passos inseguros. Encontrei conforto não nos momentos de grande euforia, mas na solidão de igrejas vazias, na luz filtrada pelos vitrais ao fim da tarde, na repetição simples de uma oração balbuciada entre lágrimas.
A paz que o catolicismo me ofereceu não foi a promessa de uma vida sem dores. Pelo contrário: foi a revelação de que o sofrimento não é o fim, mas o caminho.
Lembrei de Santo Agostinho, que disse:
"Inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti."
Senti que a minha inquietação tinha raiz justamente nesse afastamento d’Ele, nessa busca frenética por coisas que nunca poderiam realmente me satisfazer. Foi ao ajoelhar-me, cansada e sem saber o que pedir, que comecei a vislumbrar o tipo de conforto que não vem de soluções fáceis, mas da certeza silenciosa de que Deus permanece, mesmo quando tudo em mim se sente perdido.
A pequena via de Santa Teresinha começou a fazer sentido para mim de um modo que antes eu não compreendia. Ela dizia:
"A perfeição consiste em fazer a vontade de Deus, em ser aquilo que Ele quer que sejamos."
Não é necessário grandes feitos. Não é preciso ser invencível. Basta ser pequeno, confiando que Deus faz grandes coisas nos corações simples. Essa confiança humilde, que parece tão frágil, foi o que começou a sustentar meus passos. Quando todas as minhas estratégias falharam, encontrei uma liberdade nova no reconhecimento da minha própria fraqueza.
O conforto que encontrei não foi a ausência do sofrimento, mas a presença silenciosa de Deus no meio dele. Em cada lágrima escondida, em cada missa frequentada com o coração partido, em cada pequeno ato de fé feito entre dúvidas e cansaço, Ele esteve ali. Entendi, enfim, o que Santa Teresa d’Ávila queria dizer ao afirmar:
"Nada te perturbe, nada te espante. Tudo passa. Só Deus não muda."
O que hoje pesa, amanhã será lembrança. O que hoje fere, amanhã será cicatriz curada pelo tempo e pela misericórdia.
A paz que o catolicismo me deu é uma paz que carrega em si a memória da luta. É uma paz marcada por lágrimas, por silêncios, por esperas. Mas é uma paz verdadeira, porque nasce da confiança de que mesmo no mais profundo abandono, eu nunca estou realmente sozinha. Existe Alguém que me vê, que me escuta, que me sustenta em cada respiração. Existe um Lar me esperando, mais real do que qualquer incerteza deste mundo.
E enquanto esse dia não chega, sigo caminhando. Com o coração ainda ferido, mas abraçado pela certeza de que todas as minhas dores, minhas quedas e minhas saudades estão sendo recolhidas pelas mãos que jamais me abandonarão.